O Medo de Estar Perdido
A liberdade está em aceitar que, às vezes, não se sabe para onde se vai…
Sinto-me como se estivesse dentro de uma cápsula, flutuando em uma esfera suspensa no meio do nada, uma cápsula que é minha própria cabeça, uma mistura de sentimentos vagos, pensamentos e decisões que ficam em um loop, repetindo-se sem parar. É curioso como, em certos momentos, a vida parece ser um grande filme que você sabe de cor, onde a trilha sonora define a sensação do momento. No meu caso, estou aqui no carro, ouvindo "Futile Devices" de Sufjan Stevens, e me sinto como um personagem que não sabe para onde ir, preso num cenário melancólico e chuvoso, que, por mais clichê que pareça, parece perfeito para o que eu estou sentindo agora.
A verdade é que, neste momento, eu sou uma bagunça. Não é metaforicamente uma bagunça – é uma bagunça real, concreta. Eu tenho 20 anos, ou, como alguns diriam, sou uma jovem adulta. Isso significa que sou, em teoria, capaz de tomar minhas próprias decisões, gerenciar meu tempo, criar minha vida e buscar meu próprio significado, tudo isso enquanto navego pelas expectativas que me são impostas, pela pressão constante para ser algo que nem sei se quero ser. Estou perdida, não no sentido literal – quem nunca se perdeu de vez em quando? Estou perdida no sentido mais profundo, aquele que mexe com a alma. Estou perdida dentro de mim mesma.
Esses momentos de confusão, em que você se vê questionando tudo ao seu redor, não são raros para quem está entrando na fase adulta. Parece que você tem um plano, que você está seguindo um caminho, mas quando chega lá, você não sabe bem se é isso mesmo. Cada decisão parece ser importante, mas o peso de tomá-las é imenso. O medo de estar errada, o medo de falhar. Isso tudo é tão contraditório: por um lado, temos o desejo de liberdade, de fazer as escolhas que queremos, mas por outro, a pressão para sermos "bem-sucedidos", de sermos pessoas que fazem sentido no caos do mundo, de sermos algo que dê orgulho. Isso não é só uma dúvida pessoal. É quase uma crise existencial coletiva. E se você se sente perdido, não está sozinho.
Esses dias, pensei em fugir. Fugir de tudo. Como se, ao escapar, eu encontrasse alguma clareza. A ideia de escapar, de fazer uma viagem ao interior da Itália, por exemplo, onde o tempo parece andar mais devagar, onde eu poderia escrever um livro de poemas, talvez só com cartas, me pareceu muito tentadora. Não é uma fuga literal – quem tem o privilégio de poder se isolar no interior da Itália? Não é sobre o lugar, é sobre a ideia, é sobre o ato de desligar-se de tudo o que pesa e, talvez, de encontrar algo que faça sentido para o que estou vivendo. Algo para me salvar, ou talvez me perder mais ainda, mas com um propósito. Claro que isso é um pensamento escapista. Um daqueles pensamentos românticos que você se permite ter para fugir da realidade, de um mundo que exige que você seja algo a cada segundo, e se você não souber o que está fazendo, você é colocado na caixa dos desajustados, dos falhados. O que você pode esperar de uma geração que foi criada com a obrigação de ser brilhante e produtiva, mas ao mesmo tempo, incapaz de lidar com as próprias emoções? A pressão, o sofrimento, a solidão... Isso tudo é real.
Mas eu não sou a única a sentir isso. A juventude se tornou esse palco onde somos obrigados a brilhar, a ser inteligentes, a ser criativos, a ter nossas vidas resolvidas antes dos 30, ou, no meu caso, aos 20. Eu sei que é um clichê, mas quem nunca quis ser mais, ser melhor? E quem nunca se sentiu esmagado pela vida que, aos 20, ainda não se formou, ainda não tem uma direção clara, ainda não tem um futuro absolutamente garantido? Todos dizem para viver intensamente, mas como se faz isso? Como viver intensamente quando a única coisa que você sente é um cansaço imenso, uma sensação de que você está tentando se encaixar em algo que, sinceramente, não cabe mais?
Aí você olha para o lado e vê seus amigos, seus colegas de faculdade, todos tão cheios de planos, tão certos do que querem. E você começa a se questionar: será que estou fazendo tudo errado? Será que estou perdendo tempo com esse excesso de questionamentos? Mas, o que é a vida, senão esse estado de constante busca, esse desequilíbrio de incertezas, onde, mesmo que você não tenha uma direção clara, você está se movendo, você está tentando. A verdade é que, talvez, não precisemos de todas as respostas. Talvez o maior erro que podemos cometer na juventude seja achar que tudo precisa ter um propósito definido, uma estrutura rígida. O que a juventude oferece é algo mais fluido, mais maleável, um campo onde podemos, na verdade, errar, tentar e, talvez, falhar. E isso não é o fim do mundo. Isso é vida. Isso é o processo.
Eu fico pensando em todos esses jovens adultos que, como eu, estão tentando entender o que é ser adulto, enquanto ainda têm a necessidade de brincar, de se perder, de ter momentos de leveza, de despreocupação. A juventude não é uma fase de estabilidade. Ela nunca foi. A juventude é uma fase de experimentação, de olhar para o futuro e não ter certeza se ele está realmente lá ou se é apenas uma ideia que a sociedade nos empurrou para acreditar. A juventude é o caos controlado – ou, ao menos, tentamos que seja. Os 20 anos são essa mistura de tudo o que não sabemos, mas, ao mesmo tempo, tudo o que estamos dispostos a aprender.
Sabe, às vezes, eu sinto uma pressão tão grande para fazer algo, para ser alguém que me esqueço de viver o simples ato de ser. Ser sem pressão. Sem expectativas. Só ser, sem julgamentos. E isso não é algo que a sociedade nos ensina. Não, na realidade, a sociedade nos ensina a ser produtivos, a ser perfeitos, a buscar constantemente aquilo que nos fará parecer completos. Mas a verdade, que talvez ninguém nos conte, é que não existe esse "algo" definitivo que nos completa. Não existe o "eu sou o que queria ser" que todos parecem buscar com tanta intensidade. O que existe é a luta diária, o esforço de se ajustar, de se entender no meio de um mundo que não pára de nos empurrar em várias direções.
Eu vejo pessoas ao meu redor, da minha idade, que estão tentando entender esse complexo jogo de se encontrar. E, na maioria das vezes, essas pessoas não têm as respostas que tanto procuram. Elas estão tentando entender o que é o amor, o que é carreira, o que é fazer escolhas que impactam toda uma vida. Eu não sou diferente delas. Tenho os meus próprios medos, as minhas próprias dúvidas, minhas inseguranças. Por mais que tenha tentado ter controle sobre minha vida, percebo que o controle é apenas uma ilusão. Talvez a verdadeira liberdade não seja encontrar o controle perfeito, mas a aceitação de que a vida é, na verdade, um caos. E está tudo bem.
Mas não se engane, isso não significa que não queremos ser mais, que não desejamos algo grande, que não sonhamos com o extraordinário. Não, nós ainda queremos. Mas talvez a verdadeira beleza esteja em aceitar que, no meio disso tudo, ser jovem é, em última instância, um ato de coragem. É se lançar, sem saber o que vai acontecer, sem ter todas as respostas, e confiar que, no final, o que importa é o que você vai aprender ao longo do caminho. Não é sobre ser perfeito, não é sobre acertar sempre. Eu acho que, se há uma grande lição que a juventude tem a nos ensinar, é que a vida não precisa de um roteiro. Às vezes, só precisamos estar abertos para nos perder. Para entender, finalmente, que perder o rumo não é um fim. É só uma etapa. Uma etapa que, com o tempo, vai fazer sentido. E, no fundo, talvez, o maior ato de coragem seja permitir-se ser perdido, sabendo que o mais importante não é o destino, mas a viagem.